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A Urgência da Reindustrialização para Um Melhor Futuro no Brasil




A grande maioria dos brasileiros já se perguntou, em algum momento, o que falta para o Brasil avançar. Estamos condenados, como nação, a permanecer estagnados, enquanto países com populações e recursos mais limitados alcançam posições de destaque nos rankings de renda, qualidade de vida e bem-estar social?

Há quem defenda fatores geopolíticos, religiosos, coloniais e até étnicos como as raízes de um destino que perpetua a marginalização do Brasil no cenário global. Essa visão cria a impressão de um beco sem saída, onde restaria apenas resignar-se a um triste futuro, pré-concebido, em um país, paradoxalmente extremamente abundante em recursos naturais e com uma população jovem, inventiva e batalhadora.

O que podemos fazer a respeito? Devemos aceitar essa visão determinística e pessimista ou ainda há uma chance de reverter essa trajetória e construir um futuro distinto para o Brasil? Vejamos:


Olhando para trás: A industrialização, iniciada nos anos 1930 sob uma estratégia de substituição de importações, foi o principal motor de transformação econômica do Brasil no século XX. Esse processo promoveu a diversificação da economia, a expansão do mercado interno e avanços significativos na renda da população. Entre 1950 e 1980, o país experimentou um crescimento econômico sem precedentes, com taxas médias anuais acima de 7%, com foco na modernização do país puxada pela industrialização e consolidando-se como o um dos países cuja economia mais se desenvolveu, nesse período.

O futuro parecia ser promissor, mas, mesmo assim, optamos por uma alteração de rota: a abrupta abertura econômica adotada no início da década de 1990, após uma década de crises e dificuldades de controle da hiperinflação, marcou a transição para uma economia mais focada do agronegócio e das exportações de commodities, relegando à indústria um papel secundário.

Esse movimento resultou no rápido enfraquecimento do setor industrial brasileiro. Conforme dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria), no final da década de 1980, a indústria nacional representava cerca de 45% do PIB, sendo que hoje a participação da indústria se reduziu a uma parcela de cerca de 25%, queda que foi compensada pelo crescimento da participação do setor de serviços, onde os salários são sabidamente mais baixos.

O resultado foi um crescimento econômico mais modesto em relação às décadas anteriores: entre 1980 e 2022, o crescimento médio anual do PIB nacional, ajustado pela paridade do poder de compra (PPC) foi de apenas 4,5%, enquanto países com clara política industrial, como China, Coréia do Sul e Índia, foram mais bem-sucedidos, tendo avançado em 11,6%, 8,7% e 8,6%, respectivamente, no mesmo período, conforme informações do Bando Mundial.

Ao olhar o resultado alcançado pelos nossos pares internacionais, parece, portanto, que um retorno em direção à (re)industrialização seja um bom caminho para a revitalização da economia nacional. Reconhecer o erro, aprender com os casos de sucesso de outras nações e revitalizar a indústria nacional, possibilitaria ao Brasil não só a criação empregos de maior renda média, como também fortaleceria, como consequência, a demanda interna, promovendo uma maior circulação de riqueza dentro do país. O aumento da riqueza gerada pela economia brasileira contribuiria diretamente para o aumento da arrecadação tributária, sem que fosse necessário elevar a carga sobre a população.

Ou seja, o crescimento da riqueza e da produção nacional naturalmente impulsionaria a arrecadação, permitindo maiores investimentos em áreas fundamentais como educação, saúde e inovação, criando um ciclo virtuoso que retroalimentaria o sistema, através de incrementos sucessivos na qualificação, produtividade e poder de compras de toda a força de trabalho, não só no setor industrial, mas também em todos os setores da economia.

O modelo adotado no Brasil a partir da década de 1990, precisa ser repensado. Esse modelo amplifica os impactos em momentos de crise. Em 2020, o Brasil teve uma queda no PIB de 4,1% devido à pandemia de Covid-19, conforme dados do IBGE, evidenciando a vulnerabilidade de uma economia dependente das exportações de commodities e com um setor industrial fragilizado. O curto tempo transcorrido, não nos permite esquecer da carência de materiais básicos, como máscaras, seringas e cilindros metálicos. Com a (re)industrialização, o Brasil poderia melhorar sua resiliência frente a crises internacionais, que, possivelmente, se tornarão mais frequentes no futuro. Um mercado interno forte e diversificado funcionaria como uma rede de proteção contra choques externos.

Os recursos para a (re)industrialização deveriam vir principalmente de investimentos públicos e privados internos, evitando o financiamento estrangeiro, este último, o grande causador da catástrofe que acabou por encerrar o longo ciclo de crescimento na década de 1980.

Obviamente o crescimento com recurso interno é mais lento, mas certamente é mais sustentável. O setor público poderia direcionar parte de seus recursos, por meio de programas de incentivo, como financiamentos a juros baixos ou isenções fiscais, para estimular o crescimento da indústria nacional. Já o setor privado poderia ser incentivado por linhas de crédito específicas, políticas fiscais favoráveis e por um ambiente de negócios estável e com boa previsibilidade jurídica, o que aumentaria a confiança e o volume de investimentos.


Olhando para frente: Para que a (re)industrialização no Brasil seja bem-sucedida, seria necessário criar um ambiente macroeconômico favorável, de forma a estabelecer sinergias entre o setor agroexportador, com uma indústria em ascensão, focada, prioritariamente, no mercado interno. Importante considerar que as exportações de produtos agropecuários representaram cerca da metade das exportações brasileiras, sendo pilar da nossa balança comercial. Isso implicaria, entre outras medidas, em uma gestão eficiente da taxa de câmbio e da taxa de juros.

É inquestionável que a diversificação da economia brasileira é crucial. Não podemos continuar a depender exclusivamente das commodities, dado que o crescimento da economia através nesta estratégia, acarretará margens de lucros decrescentes no futuro, uma vez que essa expansão se dará para as fontes de recursos minerais e das terras menos produtivas (com custos de manejo mais custoso). Assim, o Brasil deve buscar uma nova estratégia, que possa promover um crescimento sustentável e perene no longo prazo. Isso inclui o investimento em inovação, tecnologia e na transformação de produtos do agronegócio em bens de maior valor agregado.

A sinergia entre a indústria e o agronegócio pode ser uma poderosa ferramenta para esse processo. Por exemplo, o Brasil é um dos maiores produtores de etanol e biodiesel do mundo. O setor de biocombustíveis, como o biodiesel, pode ser uma oportunidade promissora, gerando empregos e contribuindo para a autonomia energética. A produção nacional de fertilizantes é outra área que pode ser ampliada. O Brasil é um dos maiores importadores de fertilizantes do mundo, desembolsando mais de US$ 10 bilhões anualmente com compras externas. Atualmente, cerca de 45 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários são utilizados no Brasil anualmente, sendo de 85% desta quantidade via importação, conforme dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Investir na produção local de fertilizantes reduziria essa dependência e fortaleceria a indústria nacional.

O Brasil tem todas as condições de seguir um caminho similar ao de outros países que, por meio da industrialização e da inovação, superaram suas dificuldades e alcançaram um crescimento sustentável. A (re)industrialização não deve ser vista apenas como uma forma de proteger as indústrias já existentes, mas como um processo que abre espaço para a inovação e o surgimento de novos setores. O país precisa adotar políticas públicas que incentivem a criação de novas indústrias e o desenvolvimento de áreas nas quais tenha o potencial de se tornar competitivo, inicialmente buscando o atendimento ao seu mercado interno e, posteriormente, visando o mercado externo, na medida das possibilidades e da maturidade das nossas indústrias, nas décadas vindouras.

Em suma, o Brasil precisa estabelecer, de imediato seus objetivos futuros, considerando as atividades econômicas nas quais o país se concentrará para alcançar o desenvolvimento sustentável. A (re)industrialização deve ser centro desse planejamento, pois é através do fortalecimento do setor industrial que poderemos criar uma economia mais robusta e diversificada.

O Brasil possui as capacidades humanas necessárias para realizar essa transformação, com uma população jovem e talentosa, pronta para impulsionar a inovação e adotar novas tecnologias. Com uma visão estratégica, o Brasil tem total condições de se posicionar entre as economias mais dinâmicas do mundo, garantindo um futuro de prosperidade, com um mercado interno fortalecido e instituições cada vez mais sólidas e democráticas. É hora de todos juntos agirmos para construir um Brasil próspero e resiliente.

 

Daniel Luís da Silva.

Bacharel e Mestre em Engenharia, Graduando em Economia, atuando há mais de 20 anos como gestor de Projetos na Área de Óleo & Gás.

 
 
 

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